smartphone 6265047 1920 - Economia dos dados e privacidade

A economia dos dados

Na atualidade os dados tornaram-se um insumo indispensável para a economia. Empresas como Alphabet (Google), Facebook, Alibaba entre outras são gigantes da tecnologia que fazem uso intensivo de dados, por isso são chamadas de Big Techs. As Big Techs são empresas fortemente baseadas na inovação e com modelo de negócios escalável.

Big Techs em alta

O valor de mercado das chamadas Big Techs disparou e cresceu muito acima da média das empresas que fazem parte do índice S&P 500.

Big Techs

Fonte: https://www.imf.org/pt/News/Articles/2019/09/23/blog-the-economics-of-data

As Big Techs ficaram ainda mais poderosas durante a crise da pandemia, inclusive com expressivo aumento de seus lucros líquidos.

O poder está na grande quantidade de adeptos dos produtos das Big Techs, pois esses geram um volume incrível de dados que ao serem transformados em informação geram grande valor.

Big Five

No mercado dos Estados Unidos criou-se o termo Big Five, que diz respeito às 5 principais Big Techs do Vale do Silício: Apple, Amazon, Alphabet, Microsoft e Facebook.

Essas empresas dominam múltiplos mercados concentrando grande poder e tornando-as tão poderosas que competir com elas fica cada vez mais difícil.

Quando as Big Techs sentem-se ameaçadas pela concorrência, elas agem rapidamente adquirindo os novos concorrentes ou então criando produtos similares aos deles.

O efeito da pandemia

Com a pandemia, a tecnologia tornou-se essencial para os consumidores e para todo o tipo de negócio, como podemos notar com o grande aumento de demanda por serviços de e-commerce, reuniões virtuais e outras facilidades proporcionadas por tecnologias que foram extremamente úteis nos momentos de isolamento social.

O home office tornou-se uma necessidade e também fez com que disparassem as vendas de equipamentos como notebooks e dispositivos móveis de qualidade para o uso em casa.

Isso fez com que as grandes empresas de tecnologia saíssem às compras adquirindo empresas menores com alto grau de inovação. Microsoft e Apple foram as mais agressivas até o momento adquiriram 10 empresas cada durante a pandemia, porém Google, Facebook e Amazon também foram às compras incorporando várias novas empresas.

A soma das receitas das Big Five já é maior que o PIB de quatro nações do G20 (grupo de países formado pelas 20 maiores economias do mundo).

Dados como insumo básico de produção

Os economistas Yan Carrière-Swallow e Vikram Haksar do FMI consideram que os dados são o insumo básico da produção moderna, ao lado da terra, da mão de obra, do capital e do petróleo.

Em seu artigo sobre a economia dos dados, Carrière-Swallow e Haksar explicam as diferenças entre os dados e o outros insumos como o petróleo, as principais diferenças são:

  • Dados podem ser usados por muitas pessoas simultaneamente sem que se esgotem
    O valor dos dados é liberado quando muitas empresas ou pesquisadores acessam os dados e concorrem para gerar conhecimento, inovação.
  • Quando duas empresas trocam dados pessoais de alguém, a privacidade da pessoa é afetada.
    Se a pessoa não for compensada, ou informada dessa troca de dados ela pode ficar em desvantagem e ser prejudicada.
  • A prevenção do roubo ou uso indevido de dados custa caro.
    As empresas estão dispostas a gastar o necessário para proteger os dados que coletam? Preservar a reputação da empresa é fundamental, porém as empresas estão levando isso em consideração?

Como proteger os dados pessoais?

Para dar sustentação ao sistema produtivo da Economia dos Dados é de fundamental importância a existência de políticas de dados que protejam a privacidade dos indivíduos, garantindo assim a confiança.

Yan Carrière-Swallow e Vikram Haksar consideram que existem 3 desafios para modernizar as políticas de dados sem comprometer o crescimento das empresas e os direitos dos indivíduos. Os desafios são:

  1. Não sabemos como os nossos dados estão sendo usados.
  2. O compartilhamento de dados estimula a inovação, porém é necessário compartilhar e ao mesmo tempo assegurar o respeito e a privacidade.
  3. Não há uma clareza sobre o que realmente as empresas estão fazendo para proteger os dados contra uso indevido e roubo.

Enfrentar esses três desafios citados acima demanda investimento, tecnologia e uma normatização adequada garantindo o respeito a privacidade e a segurança de dados pessoais.

A importância das leis de proteção de dados

Países dos 4 cantos do globo tem criado uma legislação específica sobre privacidade e tratamento de dados pessoais.

Na Austrália existe a lei máxima sobre segurança e proteção de dados é a Lei de Privacidade de 1988.

No Canadá a PIPEDA (Personal Information Protection and Electronic Documents Act, ou “Lei de Proteção de Informações Pessoais e Documentos Eletrônicos”).

Nos Estados Unidos existem 100 legislações estaduais de privacidade — somente no estado da Califórnia temos de 25 delas.

O Japão criou a Emenda APPI de 2017, que traz preceitos básicos para a proteção de dados pessoais.

A União Europeia criou a GDPR — General Data Protection Regulation — Regulamento Geral de Proteção de Dados.

A GDPR foi aprovada no Parlamento Europeu em 2016 e entrou vigor em em 25 de maio de 2018. O tempo de dois anos entre a aprovação e a entrada em vigor da lei serviu para as empresas fazerem a adequação necessária a fim de estar em conformidade.

LGPD

No Brasil, a LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados, foi criada com a finalidade de proteger a privacidade de cidadãos que tenham seus dados coletados ou processados de alguma forma em território brasileiro.

A principais preocupações da LGPD são a proteção privacidade do cidadão e o cuidado com a segurança dos dados pessoais armazenados e processados em território nacional.

Conclusão

Na Economia dos Dados, a concentração de poder por parte das grandes empresas, principalmente as chamadas Big Techs aumentou de forma exponencial devido à facilidade que estas empresas de tecnologia possuem de obter e processar dados reunindo cada vez mais conhecimento.

Em tempos de Big Data, onde os dados são coletados das mais diversas fontes, é de fundamental importância atentar-se quanto à privacidade, idoneidade e segurança das informações coletadas e processadas.

Sendo assim, a necessidade de leis específicas sobre privacidade e tratamento de dados pessoais tornou-se uma prioridade dos países que querem competir na chamada “Economia dos Dados”, pois estas leis trazem segurança jurídica, estabilidade e confiança ao mercado e aos consumidores.

O uso adequado dos dados pessoais é importante para o consumidor que recebe cada vez mais serviços customizados de acordo com o seu perfil, porém é necessário impor limites e garantir que não haverá mau uso.

O Brasil deu um importante passo com a LGPD, alinhando-se com os países que possuem uma legislação moderna de tratamento de dados pessoais.

Eduardo Casavella – Especialista em Gestão Estratégica de Negócios e Transformação Digital

Referências:

FMI: https://www.imf.org/pt/News/Articles/2019/09/23/blog-the-economics-of-data

LGPD e os impactos na sua empresa